É mais fácil falar aqui das coisas que afligem. Eu li, fica angustiante. Mesmo sendo bom lembrar, fica angustiante a maior parte do tempo.

As últimas semanas têm sido de um gosto assim adocicado, mas não de todo bom. Como se um algodão doce pudesse ficar passado e insistíssemos em comê-lo. A ansiedade nem é lá a esperada. Imagina o interlocutor anunciando seu primeiro emprego como quem anuncia um prêmio de loteria. "Ah, que bom" foi a resposta que recebera.

As horas na sala de aula são formidáveis, excitantes, igual ou melhor que a graduação. Somados com a possibilidade calculada de obter uma variedade de coisas a toa, a situação deveria ser extraordinária. Mas não é, ou ainda não é. Acho que a ficha não caiu.

O mais animador é sonhar em trazê-la pra mim. Sonho quase real, questão de tempo. Então seremos dois coadjuvantes em que o personagem principal será o nosso cotidiano, daí então o doce será doce e as cores dançariam igual num filme do Almodóvar.

A Virgem

Em tempos aparece toda aquela mobilização para beatificar fulano ou beltrano. É que eles fazem milagres, dizem. Já morreram há tempos mas ora ou outra dão o ar da graça em história mirabolantes. Coitados, que culpa tem? São os vivos que querem mais santos mortos.

Eu tenho a minha própria. Virgem, o pré-requisito básico já vem no nome. É mãe, é esposa. É vó. Esqueceu-se que é filha e carrega como pode mais que o mundo.

Ah, eu queria logo levar seu nome aos mais altos cargos eclesiásticos dos cleros mais soberbos e esfregar na cara todos que em matéria de santo, a minha é a que mais representa.

Deus olha. Olha com olhar de Deus. E se bem conheço Esse olhar, agora mesmo está olhando mais longe do que eu enxergo. E não precisa ser divindade pra sentir que no seu coração transborda amor, caridade e zelo.

Zelo para comigo, de irmã, de mãe, de vó. Sou grato ao Pai por me honrar com tanto amor.

Vó Virgem, eu te amo. Eu reconheço seu esforço, o Pai também.